Entrevista Divaldo P. Franco

Divaldo P. Franco à TV Gaúcha - Porto Alegre-RS, maio 1976, pergunta do padre Ângelo Costa: “Allan Kardec, nas “Obras Póstumas”, 13ª edição, página 121 e seguintes, faz um estudo sobre a natureza de Cristo e nega-lhe a sua divindade porque os milagres não a provam, nem as palavras de Jesus, nem os testemunhos dos Apóstolos. No mesmo livro, página 283, Allan Kardec afirma ter recebido a comunicação da sua missão do Espírito de Verdade. Isto não é simples afirmação esporádica, ante a literatura espírita. Allan Kardec também afirma que com o Espiritismo começou a Terceira Revelação. A primeira teria sido com Moisés, no Antigo Testamento; a segunda, com Jesus, no Novo Testamento, e a terceira com o Espiritismo. No livro “O Que é o Espiritismo”, 16ª edição, página 145, Allan Kardec declara que o Cristo propositadamente não quis abordar certas verdades. Os Espíritos Mensageiros, diz Allan Kardec, têm nova revelação, mais completa.

Senhor Divaldo, gostaríamos de saber: Allan Kardec é superior a Jesus Cristo? Os Espíritos são mais beneméritos e esclarecedores do que Cristo? Além do “amai-vos uns aos outros”, o que o Espiritismo respeita nos ensinamentos e da figura de Cristo?” -

Divaldo: “Sentimo-nos lisonjeado com a confiança que Sua Reverendíssima nos deposita e, com todo o respeito que lhe devotamos, desejamos responder às três questões que nos foram formuladas. Em “O Livro dos Espíritos”, pergunta 625, Allan Kardec inquiriu aos Mensageiros Superiores: “Qual o ser mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para servir-lhe de guia e modelo?” E a resposta foi: “Jesus”. Allan Kardec imediatamente entreteceu comentários nos quais diz: “Para o homem, Jesus constitui o tipo de perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra”. Depreende-se, pela linguagem óbvia, que Allan Kardec considerava Jesus, como todos nós o fazemos, como o Excelente Filho de Deus, o Supremo Governador da Terra, o Espírito mais perfeito, que jamais esteve no mundo, colocando-se, portanto, em plano mui secundário. Posteriormente, conforme se lê em “Obras Póstumas”, segunda parte, citada por Sua Reverendíssima, quando da revelação da missão que lhe estava destinada, Allan Kardec recebeu do Espírito de Verdade, a resposta incisiva e concisa: “(...) Não esqueças que podes triunfar como falir. Neste último caso, outro te substituirá (...)” A réplica limita Kardec a um Espírito comum dotado de uma tarefa na Terra. Conforme se lê em João, capítulo 14, vv 15 a 17 e 26, e capítulo 16, vv 12 e 13, Jesus disse, segundo a tradução da Bíblia, pelo padre João Ferreira de Almeida: “Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber porque não o vê nem o conhece; Vós o conhecereis, porque ele habita convosco e estará em vós. (...) mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, este vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito (...) Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora; quando vier, porém, o Espírito de Verdade, ele vos guiará a toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de ouvir.” Como Sua Reverendíssima pode observar, foi Jesus que prometeu o Consolador. A veneranda religião católica, como a religião luterana e as suas ramificações, assevera que o Consolador veio no Pentecostes, no qüinquagésimo dia, quando o Espírito Santo, incorporado nos Apóstolos, fê-los profetizar e falar outros idiomas. O conceito é respeitável, porém, destituído de autenticidade. Isto, porque, se o Cristo evitou dizer muito mais, em razão da mentalidade do povo não ser compatível com o conteúdo dos ensinos nem os homens se encontravam preparados para tal, como poderia cinqüenta dias depois enviar o Consolador? Este Espírito Santo, para nós, são os Espíritos que vieram em todos os períodos da Terra, particularmente no século XIX quando já havia uma mentalidade científica. Evidentemente, não se poderia compreender, nos tempos apostólicos, o fenômeno da reencarnação, posto que não se conheciam as leis da biologia, da embriogenia, que estudam os fenômenos organo-genéticos. Nada se sabia de genes nem de cromossomos. Graças ao século XIX, à Doutrina de Charles Darwin, ao Mendelismo, sabe-se hoje que, através do fenômeno da fecundação, tem início a reencarnação. Como se lê em João, na entrevista com Nicodemus: “Necessário vos é nascer da água”, significa que a concepção resulta de uma gotícula de água noutra gotícula de água, realizando, a partir daí, o fenômeno vital da organização genética. Contudo, isso somente poderia ser corretamente interpretado quando a ciência tivesse avançado de tal forma que fosse possível provar que a vida organizada começa na água. Além disso, Allan Kardec não pretendeu dizer mais do que Jesus; procurou, sim, atualizar em linguagem compatível com a ciência o que Jesus havia dito em forma de parábolas, segundo o intelecto da época. Sabemos que o dialeto falado por Ele era o arameu, restrito de vocábulos. Os vocábulos, segundo os historiadores, não chegavam a número expressivo. Verificamos, na língua portuguesa, por exemplo, que somente os verbos da primeira conjugação chegam a vinte mil; os da segunda aproximadamente a dez mil; os da terceira a cinco mil e os da quarta a sessenta e oito mil - os derivados do verbo pôr. Ora, a língua falada por Jesus era sintética, fazendo-se necessário que alguém viesse desdobrar suas lições mais tarde. Porém, Allan Kardec, a seu turno, não disse a última palavra. Ele reconheceu sua condição e foi taxativo, quando asseverou que o Espiritismo acompanha o que a ciência informa: “Se a ciência provar que o Espiritismo está errado num ponto, nós abandonaremos este ponto e seguiremos a ciência”. É de uma clareza meridiana, ensejando-nos que a revelação é contínua. Quando Kardec dividiu as revelações humanas em três ciclos, ele o fez, considerando os grandes empenhos dos reveladores para a humanidade. O primeiro ciclo, de Moisés, porque o Decálogo foi a maior revelação; o de Jesus, porque é a lei de amor, e o Espiritismo, porque situou o Decálogo e a lei do amor numa síntese: a caridade! Então, a Doutrina Espírita, além do amor pregado por Jesus, aceita todos os ditos, todos os feitos e todo o Evangelho do Senhor. Não nos referimos aqui, exclusivamente aos quatro Evangelhos, mas aos vinte e sete livros do Novo Testamento, aos Atos dos Apóstolos, às quatorze Epístolas de Paulo, às Epístolas de Pedro, de Tiago, etc... Como também à visão da ilha de Patmos, pelos apóstolo João. Aceitamos o Evangelho integralmente, sem nenhuma presunção de completar ou de superar o ensino de Jesus, senão, desdobrá-lo sob a inspiração do Consolador”.

Mendes Ribeiro, o entrevistador: “Nesta resposta alguém lhe assistiu?” Divaldo: “Sim, algumas Entidades me assistiram. Os Espíritos Joanna de Angelis, que foi monja, na Terra; Cacique de Barros, sacerdote da respeitável Igreja Católica e Vianna de Carvalho, que me apresentou psiquicamente “O Livro dos Espíritos” e o “Novo Testamento” nas páginas que enunciamos”.